Sem Ronaldo, funk "sai de moda" na concentração da seleção

O funk carioca e o hip hop não fazem mais parte da trilha sonora da Granja Comary. Com o atacante Ronaldo longe de Teresópolis, o ritmo que anima os atletas durante os treinos na academia e no vestiário é mais tradicional. O pagode toca o tempo todo na concentração.

"Um sambinha sempre anima ainda mais o ambiente. O clima fica mais alegre. Adoro", disse o carioca Vágner Love, um dos atletas que comandam o som na seleção.
Sucessos de Jorge Aragão e Fundo de Quintal são as músicas preferidas dos jogadores na Granja nos últimos dias. Ronaldinho e Robinho são os outros atletas que cuidam da nova trilha sonora.

O trio é fã confesso de pagodeiros. No mês passado, eles fecharam uma boate logo após a goleada contra o Equador, por 5 a 0, no Maracanã, para comemorar a vitória em ritmo de samba.
A festa contou com a participação de vários pagodeiros e virou a noite. Integrantes de Exaltasamba, Fundo de Quintal, Kiloucura e Os Morenos participaram da celebração. O sambista Dudu Nobre também cantou.

O cantor pop Latino esteve nos festejos, entretanto não subiu ao palco. A celebração só terminou por volta das 10h do dia seguinte. Os atletas pagaram R$ 20 mil para fechar a boate The Cat Walk, que tinha como um de seus sócios o empresário iraniano Jafar Hajebrahim. Ele foi preso pela Interpol e havia sido condenado na Inglaterra a 14 anos de prisão, por tráfico de cocaína.
A mudança na trilha sonora da seleção se deve à longa ausência de Ronaldo no grupo. Até o Mundial de 2006, o hip hop e o funk dominavam as caixas de som da Granja Comary. Chamado de "presidente" pelos mais jovens, o jogador do Milan era o "DJ oficial" em Teresópolis.

Ele sempre se exercitava ouvindo estes ritmos e gostava de dançar nos intervalos. O veterano atacante chegava até a ensinar passos de danças aos companheiros.

Dançando Funk Letra Cidade de Deus

O livro "Lendo Música", da Publifolha, traz diversos ensaios que interpretam e comentam canções populares brasileiras, abordando desde o samba-exaltação na era do getulismo ("Aquarela do Brasil", de Ary Barroso) até às novas misturas eletroacústicas de Marcelo D2 ("Em Busca da Batida Perfeita").

Um dos ensaios publicados é sobre o sucesso do funk carioca "Cidade de Deus", de Cidinho e Doca. O texto questiona se os leitores já teriam ouvido esta música e ressalta que esta canção é justamente destinada a quem nunca ouviu este estilo musical ou pôs os pés em uma favela.

O ensaio é de autoria do antropólogo Hermano Vianna, autor de "O Mundo Funk Carioca" (Jorge Zahar, 1988) e "O Mistério do Samba" (Jorge Zahar/EditoraUFRJ, 1995). Vianna também é redator-final do programa Central da Periferia (TV Globo) e coordenador do site Overmundo.

O autor ainda traz um pouco da história do funk no Brasil, que até 1989 era uma cópia da fórmula inventada pelo Miami Bass, estilo bem eletrônico que o hip hop adquiriu quando chegou na Flórida, Estados Unidos. O livro também conta que o primeiro sucesso de funk, produzido no Rio e cantado em português, foi "Melô da Mulher Feia" (lançado no LP Funk Brasil, em 1989).
Leia abaixo um trecho do ensaio sobre "Cidade de Deus".

C-I-D-A-D-E-D-E-D-E-U-S
"C-I-D-A-D-E-D-E-D-E-U-S" começa com o refrão, repetido inúmeras vezes no decorrer da canção, como que para marcar/ martelar sua mensagem no ouvido do tal doutor. O refrão já é internamente repetitivo, cantando duas vezes os mesmos versos(que são acompanhados pelo tamborzão, o que cria um ambiente sonoro mais carnavalesco do que nas outras partes da música): "C I D A D E D E D E U S [cantado soletrando]/ e vê se não esquece de Deus/ Cidade de Deus [sem soletrar] / C I D A D E D E D E U S [soletrando novamente]/ e vê se não esquece".

Depois do refrão, os cantores descrevem a imagem de quem mora na Cidade de Deus segundo o "doutor", o sangue bom, a mídia ou quem não mora por lá, mas já apresentando suas respostas para as acusações e, em troca, acusando a discriminação de ser uma forma de violência: "dizem que nós somos violentos/ mas desse jeito eu não agüento/ dizem que lá falta educação/ mas nós não somos burros não/ dizem que não temos competência/ mas isso sim que é violência".

E emenda com uma crítica feita ao funk: "que só sabemos fazer refrão". No próximo verso o discurso muda de tom, e a auto-imagem raivosa e resoluta (mas de alguma maneira e em alguns momentos submissa, pois é dirigida a quem socialmente tem o poder para decidir os destinos da favela) ganha destaque a partir de um "se liga sangue bom" (que significa: "preste atenção, meu ouvinte de fora" - ouvinte interpelado como "sangue-bom", que pode ser também sinônimo de "gente boa", mas aqui nitidamente de classe social superior).

Cidinho e Doca dizem então como é na realidade a CDD, e dão ordens para o destinatário da mensagem: "nós temos escola/ nós temos respeito/ se quer falar de nós, vê se fala direito". É então que reaparece o doutor, numa declaração de obediência à ordem vigente, em que a falta de "documentos" (sobretudo a carteirade trabalho) é usada pela polícia como desculpa para prisões arbitrárias dos pobres: "estou documentado, doutor/ cidadão brasileiro, e tenho o meu valor".

Quase toda a letra parece ser enunciada em nome de um coletivo (todos os moradores da CDD, ou de todos os funkeiros da CDD), mas em determinados momentos fica bem pessoal, como se fosse uma autobiografia: "é/ meu pai é pedreiro/ mamãe costureira/ e eu cantando rap pra massa funkeira" (repare bem: ele "canta" rap, não diz ou recita um rap). No próximo verso, volta o coletivo, como se não houvesse fronteira entre o eu e a comunidade: "o ritmo é quente, é alucinante / êta povo valente, êta povo gigante".

Volta o refrão e logo após, o "doutor" vai ser tratado com a intimidade do pronome "tu" conjugado em modo popular, comum em todas as periferias brasileiras: "mas se tu não sabe, eu te conto/ mas eu não sei se tu está pronto/ nem tudo que falam é verdade/ queremos paz, justiça, liberdade/ quando tiver um tempo sobrando/ se liga no que estou falando/ vai lá conhecer minha cidade". Está feito o convite, e é um convite bem realista. Cidinho e Doca não vão maquiar sua cidade para receber os convidados - eles prometem alegria e sofrimento, mas sem esconder o orgulho de morar em meio a esses contrastes: "tu vai se amarrar, vai se divertir/ depois que tu entrar não vai querer sair/ vai ver alegria, vai ver sofrimento/ não escondemos nada que temos lá dentro/ porque a comunidade tem fé".

Fé no funk

Ela começou fazendo solos na igreja, até que o primo DJ botou uma pilha e MC Sabrina virou cantora. E gosta de cantar o amor!

Sabrina tem 18 anos, mas já é mãe de família: casada, tem um filhinho de 4 meses. A menina sonha se dar bem no funk para ajudar a família e até hoje se aconselha com o pastor.Com o sorriso sempre do tamanho de sua simpatia, MC Sabrina faz sucesso e ganha espaço no movimento funk com canções que falam de amor. Aos 18 anos, a cantora, que já tem dois de carreira, hoje se divide como artista, mãe e donade-casa, e conta como começou na vida artística. “Eu fazia solos na igreja que freqüento. Mas um dia o DJ Júnior, que é meu primo, me convenceu a fazer um teste com uma versão de Sorte Grande, da Ivete Sangalo”, lembra a cantora, que hoje ainda se aconselha com o pastor de sua igreja.

Fã de Michael Jackson – de quem arrisca copiar alguns passos –, Mariah Carey, Beyoncé e de vários cantores evangélicos, Sabrina começou cantando músicas que falavam sobre a vida nas favelas, mas já direcionou sua carreira para canções mais românticas. “É o que curto cantar. E o mais legal é que até quem vai ao baile brigar acaba cantando junto e entrando no clima”, conta.

“Até quem vai ao baile pra brigar acaba entrando no clima das minhas músicas”

Sempre acompanhada pelo DJ Júnior, que compõe suas músicas e faz as montagens, a MC fez fama com Eu Solto a Minha Voz, mas Bondinho também está na boca da galera. Sabrina ainda participou de uma faixa do novo CD de um de seus ídolos, Buchecha. “A música se chama Implacável e fala de um cara que se arrependeu de não ter ficado com a menina. Foi o máximo gravar com ele”.

Entre os amigos famosos, MC Sabrina sempre divide palco com MC Frank, Mascote e Duda do Borel. Recentemente, se apresentou num clube em Santos, em São Paulo, e agitou a galera do litoral paulista. “Fiquei muito feliz de ver o pessoal sabendo cantar as músicas, participando mesmo”, conta.

Com todo apoio da família para seguir carreira, Sabrina sempre tem a companhia de Claudinho, seu marido, nos shows. “Deixou o meu filho Kauã, de quatro meses, com a minha mãe e vou trabalhar”, diz a cantora, que tem planos de ajudar toda a família. "Espero o mais breve possível poder comprar uma casa para minha mãe." A MC promete.

Revista Americana se assusta com Funk Carioca

Em entrevista recente, o historiador americano e brasilianista Thomas Skidmore afirmou que o Brasil não precisa mais de pensadores estrangeiros para explicá-lo. Talvez o momento seja propício ao movimento contrário: atualmente, os estrangeiros se beneficiariam bastante se procurassem separar o que é fato do que é mitificação na vida da Belíndia. Pelo menos, essa é a impressão deixada pelas sete páginas sobre bailes funk escritas pelo jornalista Kevin Heldman (em reportagem entitulada Nuthin' but a favela thing, ou seja, "Nada além de uma coisa da favela") para a edição de janeiro da revista americana Spin, que acaba de chegar às bancas.

Por algum motivo, o repórter visitou o Rio e só o que conseguiu ver foi violência. Ignorou solenemente a existência de bailes funk "normais", e, a bem da verdade, só foi a um clube, alegadamente em Nova Iguaçu. Na sua reportagem, sai da boca do DJ Marlboro, respeitado pioneiro dos bailes, a seguinte frase: "Ouvi dizer que uma vez, um dos produtores subiu ao palco e gritou: 'o primeiro que me trouxer o dente de um alemão (inimigo) leva este CD!'"

Da mesma forma, ao relatar as complicações com a justiça do produtor da Furacão 2000, Rômulo Costa (que foi encontrado pela polícia e preso na semana passada), o americano reproduz as acusações de tráfico de drogas e apologia ao crime enfrentadas pelo, segundo a matéria, "auto-intitulado padrinho preto do funk" ("the black godfather of funk"). Este, por sua vez, responde às acusações dizendo que os que o perseguem são "bichas" e "putas" ("faggots" and "bitches") querendo aparecer às suas custas. Mas cadê o funk?

Kevin colou num rapaz que é ex-chefe de galera (grupo de funkeiros que baila e briga unido), indo com ele ao baile e à favela e tendo um pouco da visão "das internas": pobreza, racismo e violência, é claro. Testemunhou o chamado Corredor da Morte - área que divide a pista de dança ao meio, onde quem cair apanha -, a dança da bundinha e o (ab)uso de álcool, maconha e cocaína. Aparentemente, ele não foi informado que, até aí, pouca diferença para danceterias da classe média da Zona Sul carioca, que não têm Corredor, mas têm brigas de pitboys e lutadores de jiu-jitsu, fartamente relatadas nos jornais - ou seja, a razão para a violência explodir no que deveria ser divertimento está longe de ser apenas socioeconômica.

Tapando o sol com a peneira

Ao tentar penetrar na vida da favela, escolhendo um personagem e seguindo seus passos, o repórter foi acachapado pela visão da agressividade, e o seu deslumbramento, infelizmente, impediu que a música fosse analisada. Ela é apenas levemente mencionada na explicação de que aquele funk vem do Miami Bass dos anos 80 - e é só. A impressão que fica, ao final das sete páginas, é a de que a música é coadjuvante nos bailes - há poucas especulações sobre o que dizem ou fazem os MCs que comandam as galeras.

É verdade que as letras são cruas, falam de inimigos e batalhas imaginárias entre grupos de bairros diferentes e de sexo sem romance. As músicas têm arranjos pobres e são mal produzidas, porém extremamente eficazes para enervar quem as escuta desavisadamente. O pouco de melodia que existe, usualmente nos vocais, é repetido como ladainhas, sem variar jamais. O batidão também não muda, e teclados quase de brinquedo completam o "arranjo" com sons agudos, preferencialmente metálicos. Mas há - e isso não é relatado na reportagem - quem trabalhe conscientemente sobre o estilo funk do Rio, incluindo percussão e sampler, letras espertas, embora esse ainda não seja o seu formato mais comum. Um exemplo do bom uso da estrutura deste tipo de canção é a premiada (e cada vez mais popular) faixa Us Mano As Mina, presente no disco Seja Como For, do rapper paulistano Xis.

Outras incongruências chamam a atenção na matéria da Spin: o repórter se encontrou com alguns rapazes numa tarde em dia de semana, e os garotos resolveram dar uma amostra de briga de baile ali mesmo. A foto está estampada na revista, como se documentasse a realidade. Realidade mesmo? Está para nascer o brasileiro que não se empolgue com uma câmera apontada em sua direção.

O funk e a juventude pobre carioca.

O funk, assim como a axé-music, o rap e a chamada música sertaneja, sofre os efeitos de uma espécie perversa de exclusão estético-ideológica do que se chama de MPB

É sempre assim: quando alguma manifestação cultural criada pela juventude pobre rompe as barreiras sociogeográficas e passa a aparecer com destaque em meios de comunicação, a primeira reação é de alarme, choque e desconfiança. Assim aconteceu com o punk paulistano no final da década de 70, assim também foi recebido o rap da periferia de São Paulo ali pelo meio da década de 80 e não é de se espantar que tenha voltado a ocorrer no final de 2000 com o funk carioca. Seus músicos e compositores vêm dos morros e favelas do Rio de Janeiro, seu público – que nas letras é caracterizado como composto por popozudas, tigrões, tchutchucas – é original também. Enquanto as músicas com batida monocórdica e refrões repetitivos ("tá dominado/tá tudo dominado") saíam de quase todas as rádios, TVs e barraquinhas de CDs piratas espalhadas pelas cidades brasileiras, uma onda de horror moralista seguiu-se à invasão do funk.

De um lado, apontava-se (no passado, porque afinal, já nem se fala tanto assim de funk carioca) a "má qualidade" das músicas e letras. Vejamos um exemplo em texto publicado na Folha de S. Paulo que sintetiza um tipo de proposição que se tornou bastante comum sobre o funk carioca e, de certa forma, é extensível para outros fenômenos culturais criados por jovens de classes populares: "Sociologicamente, o movimento do funk carioca tem lá sua validade. ((…) Musicalmente, esse estilo nada mais é do que um monumento à repetição. Das batidas ao chauvinismo das letras, os freqüentadores de bailes da equipe Furacão 2000 não ouvem nada de novo há décadas". Em vez de relativizar, como aparentemente é a intenção do autor, o paternalismo e a condescendência contidos no "sociologicamente válido" evidenciam, na verdade, um enorme desinteresse, o que se confirma pela associação óbvia que o autor faz entre uma descrição, digamos, objetiva sobre as condições em que é produzido o funk carioca e os adjetivos que usa a seguir para (des)qualificá-la: "Como, em sua origem, esse tipo de música era produzida por rapazes pobres com uma bateria eletrônica (rudimentar) na mão e um arsenal reduzido de idéias na cabeça, a criatividade foi a primeira vítima na gênese do funk carioca" (grifos meus)1. É de se perguntar qual é de fato a vítima neste caso: será que é o que o autor chama de criatividade? Ou as vítimas reais são esses tais "rapazes pobres" aos quais o jornalista se refere e aos quais se concede serem capazes de produzir fenômenos sociologicamente válidos (o que quer que isso signifique), mas cujas realizações estéticas levariam a priori a marca da precariedade? Ainda, o que é exatamente esse tal de "novo", sem o qual seria impossível a criatividade?

Aos muxoxos dos moralistas estéticos juntaram-se as exclamações da patrulha dos costumes. "Denúncias" escabrosas que davam conta de "orgias" e sexo desregrado nos bailes funk apareceram na imprensa e várias autoridades apressaram-se em tecer considerações alarmadas2. As tais denúncias versavam sobre menores fazendo sexo, sexo sem proteção, gravidez precoce, nada muito diferente do que acontece todos os dias em outros grupos juvenis e não apenas entre as classes populares. Ao mesmo tempo que os meios de comunicação abriam espaço para que os dedos da moralidade apontassem o escândalo, a mesma mídia estava explorando o sensacionalismo sexual que se criou em torno do funk, inventando novos objetos de babação masculina como a "Enfermeira do Funk" e exibindo meninas em trajes sumários executando coreografias explicitamente sexualizadas. Novamente, nenhuma novidade – antes das garotas do funk, tivemos as bundas do Tchan e as mascaradas de Luciano Huck. A única diferença, na verdade, foi a magra vitória feminista que o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo conseguiu quando, preocupado com o aumento de casos de assédio sexual e com a erotização da imagem das enfermeiras profissionais, anunciou que ia entrar com uma ação contra o empresário Alexandre Frota e assim impediu que a "Enfermeira do Funk" fosse exibida em capas de revista e na televisão (o empresário, entretanto, não perdeu tempo e transformou a "Enfermeira" em a "Proibida do Funk" e também lançou uma nova personagem, a "Ninja").

Se o alarido é por conta do que se chama de "má qualidade" de música e letra ou por conta do moralismo hipócrita, tanto faz. O fato é que, antes mesmo de se entender o funk carioca, ele foi combatido, rotulado e (agora no meio de 2000) já jogado para escanteio. O que não significa que ele tenha desaparecido e nem que não seja interessante e importante tentar entender alguns dos aspectos envolvidos em sua origem e seu impacto na cultura brasileira.

Um pouco de genealogia
O que é, afinal, o funk carioca e o que ele fez para merecer tanta maledicência? Para começo de conversa, carioca é, mas não é exatamente funk. Foi porque nasceu nos bailes funk das favelas e subúrbios do Rio de Janeiro que esse estilo acabou, por extensão, adotando o nome de funk. Há parentesco com funk, termo que denomina as "variações anárquicas e polirrítmicas da música soul"3 e define um estilo musical com forte marcação rítmica (groove) de baixo e bateria, uma vez que o funk é, digamos, também matriz do miami bass, música de base eletrônica com sonoridades graves sobre a qual grava-se o vocal, geralmente de letras com referência à diversão e sexo e principal influência do funk carioca. Indo mais para trás na genealogia4, uma vez que o miami bass é uma derivação do eletrofunk, do qual também saiu o primeiro rap nova-iorquino (Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash), pode-se dizer que o funk carioca, portanto, é uma espécie de primo debochado e desaforado do rap de grupos como os Racionais MCC’s. Nessa salada toda de termos, o importante é reter que todos esses gêneros citados – rap, electrofunk, miami bass – são musicalmente minimalistas por excelência e baseiam-se em batidas eletrônicas pré-gravadas ou sampleadas.

Já os bailes funk têm raízes mais fundas na paisagem cultural do Rio de Janeiro5. Surgidos nos anos 60, os primeiros bailes exclusivamente de som mecânico eram promovidos pelo lendário DJ Big Boy, realizados no Canecão, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e tocavam rock e soul. Nos anos 70, quando os bailes passaram a ser levados também para os subúrbios, ocorreu uma separação socioétnica-musical: os bailes do subúrbio especializaram-se em ritmos negros (funk, soul) e tornaram-se bailes black, os da Zona Sul continuavam tocando rock. Nesse caldo de cultura foi que nasceu o Black Rio, um dos primeiros movimentos de afirmação cultural da juventude negra, que não só deu origem à importante Banda Black Rio (cujo suíngue funk foi "descoberto" por Gilberto Gil em seu disco Refavela, de 1974), como abrigou outros compositores importantes do soul-funk brasileiro (Cassiano, Hyldon e Gerson King Combo). Os bailes black também deram guarida para músicos como Tim Maia e Jorge Ben que, embora de inserção mais antiga na música brasileira, amargaram, durante os anos 70, uma espécie de ostracismo.

A primeira grande equipe de funk, a Furacão 2000, foi criada em 1973 e está até hoje em atividade. Outras, como a Pipoo’s, Espião Shock de Monstro e New Funk, também surgiram do mesmo caldo cultural – a população jovem das favelas, de morros e subúrbios cariocas – com a mesma função, promover bailes semanais que reúnem milhares de jovens e muitas vezes são a única alternativa de diversão e de expressão cultural de algum tipo em áreas carentes e dominadas pela marginalidade. Grupos de jovens da mesma comunidade ou bairro que vão juntos ao baile são chamados de "bondes", as garotas são "popozudas", "cachorras" e "preparadas". Enquanto o hip hop paulistano (e, em certa medida, aquele que vem do Distrito Federal também) é marcado por um discurso mais politizado, as "galeras" do funk escolhem temas mais diretamente conectados com as suas possibilidades imediatas de diversão: sexo, futebol e os próprios bailes.

Se em São Paulo, onde também existiam bailes black – os mais famosos eram promovidos pelo Chic Show –, as preferências tendiam para o rap mais combativo do Public Enemy, no Rio o que mais pegou mesmo foi o miami bass. Marlboro, um dos principais DJs dos bailes funk nas década de 80 e 90, afirma que esse ritmo, do qual foi um dos introdutores, fez sucesso antes aqui do que nos EUA.6 No final dos anos 80, foi lançado o primeiro disco com composições brasileiras, "Funk Brasil Volume 1", mas foi na década de 90, que o mundo funk carioca passou a ter mais visibilidade. Músicos como Fernanda Abreu e Lulu Santos incorporaram a batida dos morros e subúrbios em seus discos; com a crescente popularidade de músicas de base eletrônica, casas noturnas da Zona Sul passaram a tocar também charm (versão mais romântica) e funk carioca até o primeiro estouro popular de uma vertente mais melódica e lenta, o chamado funk melody, nas vozes de Claudinho e Buchecha ("o que eu quero é ser feliz/andar tranqüilamente na favela onde eu nasci"). O grito de guerra dos bailes funk, "u-tererê", migrou para estádios de futebol e shows e começou a ser ouvido em todo o Brasil. Não foi só em cadernos de cultura que o que acontecia nos bailes passou a aparecer: as páginas policiais noticiavam, em tom alarmado, as brigas entre galeras e mesmo os "arrastões" que assustaram o Rio de Janeiro eram atribuídos aos mesmos jovens que dançavam, ora, funk, nas noites de sábado.

A bola da vez
No ano passado, o "fenômeno" explodiu, numa bem construída operação de marketing encetada sobretudo pela gravadora Sony. De certa forma, a grande sacada foi vender o funk carioca como alternativa para a axé music, já um tanto desgastada pela superexposição. Em comum com o axé, o funk carioca tinha o potencial para oferecer uma música com letras de duplo sentido e inúmeras alusões mais e menos explícitas à sexualidade, uma batida marcada fácil e coreografias próprias já desenvolvidas nos bailes, prontas para serem estilizadas em apresentações na televisão. O primeiro indício de que a aposta daria pé foi o estouro de "Popozuda", do grupo DeFalla, que disseminou a figura da "popozuda", a garota gostosa e pronta para o sexo, da mesma forma que as loiras e morenas da axé music em suas danças da garrafa e em sua disposição para, bem, segurar o "tchan". Esse funk carioca, de certa forma "acanalhado" e reformatado para os mesmos programas de televisão que vêm vendendo axé há uns 5 anos, tornou-se ainda mais visível com o lançamento do CD do Bonde do Tigrão, grupo cuja imagem foi cuidadosamente rearrumada de forma a parecerem menos negros e menos periféricos; portanto menos ameaçadores: os meninos ganharam roupas e cabelos, por exemplo, mais parecidos com os dos grupos de pagode do que com a imagem dos grupos de hip hop. Deu certo. O funk carioca tornou-se o ritmo do verão 2001, ganhou bailes mauricinhos em São Paulo e chegou ao carnaval baiano, principal vitrine de ritmos pop-popularescos.

Afinal, qual é o escândalo?
Até aqui, nada demais. O funk carioca é só mais uma "bola da vez" no processo de manufatura de fenômenos musicais que se estabeleceu plenamente nos anos 90 e, grosso modo, poderia ser descrito pela seguinte fórmula: detecta-se a existência de um estilo musical popular, reembala-se com tintas pop e popularescas para consumo menos regional, tanto no sentido geográfico quanto no social, e vende-se em larga escala. A indústria fonográfica brasileira, dominada pelas grandes multinacionais do entretenimento (Sony, Universal, EMI-Warner), percebeu em algum momento entre os anos 80 e 90 duas características importantes do mercado brasileiro: a) o Brasil tem uma tradição e diversidade musical que não dá para ser desprezada; portanto, vender música aqui significa vender sobretudo música brasileira e b) o fosso que separava aquilo que era do agrado da classe média do gosto das classes populares diminuiu.

O que aconteceu com o funk carioca, em certa medida, já havia acontecido com vários outros gêneros nos anos 90. Foi assim que a música do carnaval baiano (originalmente, uma forma neo-afro de samba e reggae que, uma vez diluída, tornou-se a axé music) passou a ser produto o ano inteiro, que o sertanejo travestido de country saiu do âmbito da população rural e tornou-se a música romântica por excelência no lugar vago por um Roberto Carlos cada vez mais exaurido, que o samba fundo-de-quintal, uma espécie de samba mais doméstico e livre das armadilhas do samba-enredo, largou sua roupagem malandra carioca e ganhou ares corno-arrivistas8 transformando-se no pagode paulistano mauricinho, que o forró hoje em dia ganhou uma vertente chamada de "universitária", em que basicamente um bom sanfoneiro nordestino toca com garotos de classe média para jovens com nostalgia de suas viagens a Porto Seguroo…

Em comum, além de um certo padrão nas manipulações comerciais e industriais promovidas pelas gravadoras, esses gêneros sofrem também dos efeitos de uma espécie perversa de exclusão estético-ideológica do que se chama de MPB. Ao contrário do que sugeriria a simples e desapaixonada decodificação da sigla – lembrando, música popular brasileira –, MPB não é o nome de toda a música não-erudita produzida em território nacional, mas um termo cunhado entre o final dos anos 60 e início dos 70 para designar a música de alguma forma filiada às revoluções estéticas da bossa nova, seja em sua vertente nacional-popular (música de protesto), seja em seu formato pop-anárquico (tropicalistas), seja no seu lado neotradicionalista (representado por compositores como Paulinho da Viola, Chico Buarque). Ou seja, um gênero específico, mais ou menos circunscrito a uma única geração, classe social e tipo de formação cultural, arroga-se o direito de chamar-se simultaneamente de popular e brasileiro, a despeito da variedade de músicas que poderiam ser consideradas brasileiras, dado que são criadas em território nacional, e da enorme diversidade étnica e cultural de seu povo.

Assim, firmou-se uma espécie de cisão dentro da música feita no Brasil: de um lado, uma música admitida como a música popular e brasileira tal como a classe média intelectualizada entendia tanto o "popular" quanto o "brasileiro"; de outro, todas as outras músicas tão ou mais populares e brasileiras quanto a MPB. Evidentemente que não se pode atribuir essa manobra a um calculismo maquiavélico por parte de compositores, críticos, público, pensadores e intelectuais da MPB, mas o fato é que este pensamento ditou por muito tempo e continua a nortear, de certa forma, as regras do bom gosto e do admissível como "popular" e "brasileiro" em música brasileira.

Como se vê, essa não é uma disputa qualquer na cultura brasileira. Até mesmo a contracorrente dessa espécie de pensamento único emepebístico, representada sobretudo pelo ultranacionalista José Ramos Tinhorão, tem o mesmo impulso de tentar tutelar o que deve ser o "popular" e o "brasileiro". Sobre axé, o crítico escreveria o seguinte: "As demais criações classificadas como ‘brasileirass’ surgidas pelo correr da década de 1980 – principalmente durante o carnaval baiano – viriam comprovar apenas a extensão da penetração que os alcançavam entre as próprias camadas populares". O tom é obviamente de lamentação por um gosto popular perdido, uma vez que este foi contaminado pelo que o autor chama de "ritmos de massa internacionais" e, portanto, já não pode mais aspirar.

O que parece espantoso é o fato de não ter ocorrido ainda aos árbitros do "gosto popular" a constatação de que o "povo brasileiro" não é exatamente o que se imaginava que ele era e muito menos o que os intelectuais e pensadores à esquerda, à direita e ao centro gostariam que ele fosse. Nos dois casos, ou seja, tanto no pensamento em torno da MPB quanto naquele que a critica, parece que, muito mais forte do que o interesse real pela cultura que os vários povos brasileiros possam estar produzindo, é a vontade de normatizar, regular e decidir o que deve ou não ser a cultura do povo brasileiro.

Na música dos anos 90, o povo brasileiro (o real e não o imaginário) vem sistematicamente subvertendo tudo ou quase tudo o que se esperava dele – e os tubarões das gravadoras, os apresentadores maliciosos da TV têm sido muito mais rápidos em perceber isso do que os intelectuais. Antes de classificar, julgar e condenar (ou até mesmo festejar, o que dá mais ou menos na mesma), o funk carioca e todos os escândalos que se criaram em torno dele são só mais um capítulo dessa história.

*Bia Abramo é jornalista.

Notas

1. FRANCO, "O relaxo é pai do funk", artigo publicado na "Revista da Folha" , em 25/02/2001.

2. DIMENSTEIN, Gilberto. "Dia Internacional da ‘Popozudaa’", artigo publicado na Folha de S. Paulo em 11/03/2001.

3. Shuker, Roy. Vocabulário do Pop (editora Hedra, 1999)

4. A idéia dessa genealogia foi tomada de empréstimo do jornalista e escritor Alex Antunes

5. VIANNA, Hermano. O Mundo Funk Carioca (Jorge Zahar Editor, 1997)

6. MENA, Fernanda. "Veteranos revelam história do funk carioca", entrevista publicada no "Folhateen", em 26/02/2001

7. "Música: Explosão Nacional", revista Veja, 20/03/1996

8. Termo tomado de empréstimo de Alex Antunes

Funk Brasil - DJ Marlboro comanda a massa

Podem começar a chorar, hypes descolados que sofrem de funkfobia. O DJ Marlboro mostrou com quantos beats se faz um baile funk para balançar o popozão da paulistada antenada. Pilar do funk carioca, o DJ está na estrada há mais de 20 anos e foi uma das atrações do Skol Beats, em São Paulo, o maior evento de música eletrônica do país. O DJ tocou no meio do sambódromo do Anhembi, em cima do caminhão do trio elétrico da Pepsi, que estava situado entre o palco principal e as tendas.

Enquanto o DJ Patife mandava aquele sonzinho aguado no Live Stage e a sensação Tiga (DJ canadense) lotava a tenda The End, Marlboro desfilava o melhor do funk para uma multidão. Teve desde MC Leozinho, dono de "Se ela dança eu danço", o hit do momento, até "Elas estão descontroladas", passando, como não podia deixar de ser, por Tati Quebra-Barraco. Assim falou um carioca, com sorriso estampado no rosto: "Paguei 300 pratas de avião para ver um baile funk em São Paulo, é inacreditável".

O investimento é válido porque não há nada mais divertido, no melhor dos sentidos, do que ver os paulistas engolirem o preconceito e a marra de descolados cosmopolitas e se esbaldarem no batidão. Mergulhados no set e fazendo tudo que seu mestre Marlboro mandava, bateram bundinha e obedeceram aos comandos do DJ: todo mundo cantando o refrão com as mãos para o alto. Bonito de ver.

O funk é a música eletrônica brasileira
Isto posto, conclui-se: o funk extrapolou as fronteiras do Rio, o "estrago" é irreversível. O estilo levou cerca de dez anos para sair do subúrbio e chegar aos bem nascidos da zona sul carioca. E agora, depois de uma breve passada pela novela das oito, chega com sucesso a São Paulo, a meca da cena eletrônica nacional.
Vale lembrar que a escalação de Marlboro para o festival foi bastante discutida. Uns disseram que era uma heresia, entre delongas preconceituosas. Outros resolveram poupar energia dessa discussão boba para melhor gastá-la na pista de dança. No meio da confusão, palmas para a produção do evento, que resolveu peitar e partiu para a inovação. O que deu munição para os adeptos da seguinte teoria: o funk carioca é a autêntica música eletrônica brasileira.

Antes que os apressados disparem que é tudo uma cópia do miami bass, vamos aos fatos. Corta para 1982, Brooklyn, Nova York. O hip-hop começa a tomar forma e o rapper Afrika Bambaataa (novato à época) tem a seguinte sacada: juntar a base rítmica do estilo que então surgia com os teclados do alemão Kraftwerk. Nascia a fundamental "Planet Rock", com uma batida que ecoa até hoje.

Em Miami, sexo substituiu engajamento
O hip-hop aportou em Miami poucos anos mais tarde. Foi muito bem tratado pelos os produtores locais: ganhou graves mais gordos, uma batida mais forte e, talvez por conta da praia ou da aura festeira da capital da Flórida, letras que beiravam a mais pura sacanagem. É isso mesmo: sai o discurso social dos negros engajados de NY e entra o sexo em cena. Era um tal de "shake your booty" pra lá e pra cá que não acabava mais.

É na produção em massa da vertente Miami do hip-hop que o funk carioca vai se "inspirar". Lá no meio da década de 80, os hits dos bailes de subúrbio eram as músicas gringas adaptadas para o português: mantinha-se a base original e criava-se a letra em cima. Depois de toscamente gravadas, eram tocadas pelos DJs nas noites com sucesso garantido. Atire a primeira pedra quem nunca dançou ao som de "Mulher feia cheira mal como urubu". Guardadas as proporções, o funk, assim como a bossa nova, se utilizou de elementos de música gringa para forjar algo novo, inédito e genuíno.

O próximo passo para dominar o mundo já foi dado. Os pancadões das favelas do Rio invadem o exterior cheios de pompa e circunstância. A prova mais recente está na figura do DJ Diplo. Em 2003, o americano descobriu o funk com amigas brasileiras em Nova York e, desde então, vem usando elementos do estilo em suas produções.
Responsável pelo disco da cantora M.I.A, sensação do pop e do último Tim Festival, Diplo usou samples de hits dos bailes daqui para entregar autênticos pancadões à cantora do Sri-Lanka - tire a prova ouvindo a nervosa "Bucky done gun". Logo em seguida, o DJ usou seu selo para lançar nomes do funk brasileiro no exterior.
Quem também pega carona nessa onda é Edu-K. Ex-vocalista do grupo de rock De Falla, ele produziu a atual darling dos DJs gringos. Com os vocais gritados de Deize Tigrona, "Sex-o-matic" vem fazendo bonito - entrou na compilação do mês passado da importante revista Mixmag, além de uma resenha elogiosa ao disco do rapaz na mesma publicação.

Podem reclamar, espernear, mas não dá para ignorar. O funk carioca é uma realidade, só não vê quem prefere se fazer de surdo.

A RAINHA DO FUNK (CARIOCA) JAPONÊS - TIGARAH

Entrevista com: Yuko Takabatake, ou melhor: Tigarah
O funk carioca está cada vez mais internacional. A japonesa Tigarah é uma prova disso. Com um EP lançado exclusivamente na internet e preparando seu primeiro álbum para o ano que vem, a cantora de 24 anos conta como conheceu e se apaixonou pelo funk carioca, que se tornou uma de suas influências musicais. De mudança de Tóquio para Los Angeles, ela conta também, nesta entrevista, porque largou uma carreira acadêmica para se tornar cantora e como a internet auxiliou na divulgação do seu trabalho.

Roberto Maxwell - Você diz em seu site que começou sua carreira depois de se formar em Ciências Políticas. Em que momento você desistiu da carreira acadêmica para se tornar cantora?
Tigarah - Bem, quando eu era adolescente, eu achava que atuando na política poderia melhorar este mundo. Era uma coisa meio naïve. Depois que eu entrei na universidade, eu compreendi que a maioria dos políticos não trabalham honestamente e fiquei chocada. Então, eu não queria ser mais um deles. Eu comecei a pensar em ser artista para expressar minhas idéias e passar boas energias para as pessoas. Eu queria fazer as pessoas felizes. Eu acredito que este é um dos melhores caminhos para fazer este mundo melhor. Por isso, eu escolhi a música. Foi há cinco anos atrás. Música tem mensagem, tá ligado?, e foi fácil para mim começar a fazer música. Eu sei que a indústria da música está cheia de porcarias mas, pelo menos, eu posso colocar a minha mensagem e atingir diretamente as pessoas. Eu ainda acredito que isso é uma coisa legal e é por isso que eu estou aqui.

RM - Quando e onde você conheceu o funk carioca? Por que você concluiu que o estilo poderia ser uma influência na sua música?
T - Pouco depois de eu ter começado a escrever músicas, eu encontrei o funk carioca. Foi numa festa na casa de um amigo brasileiro. Você sabe, embora a maioria das pessoas não tenha conhecimento, muitos brasileiros vivem no Japão. Por isso, eu conheci essa música bacana. Quando eu ouvi pela primeira vez, eu fiquei “QUE P. É ESSA???” (risos). O negócio bateu em mim e me trouxe um monte de inspiração. Eu não escolhi ou decidi que poderia ser uma influência. Simplesmente, comecei a escrever da minha maneira com o funk carioca, a partir daquele dia. Aconteceu naturalmente. :)

RM - Você diz que esteve no Brasil algumas vezes. Quais cidades do Brasil você visitou?
T - Basicamente, eu fiquei em São Paulo, onde meu melhor amigo mora. Mas, eu fui ao Rio também. As duas cidades são bastante legais. Eu fui num evento no Rio onde, por coincidência, eu encontrei o Mr. D que é meu DJ e produtor. Naquela ocasião, a gente decidiu trabalhar juntos, o que a gente vem fazendo há mais ou menos 3 anos. Fazemos música bacana desde que a gente se conheceu. Por isso, eu amo o Brasil!

RM - Você foi num baile funk no Rio de Janeiro? Lembra-se onde? Qual foi a sua impressão sobre o baile?
T - Eu fui há algumas festas no Rio. Uma delas, eu acho que foi num clube grande, próximo à praia de Ipanema. Era um local bem grande e eles tocavam outros estilos além do funk. Foi muito legal!!! Todo mundo dançando aqueles passos do funk. Coisa quente e louca, mesmo (muitos risos). Mas, estava todo mundo parecendo muito feliz e se divertindo à beça. Eu me diverti muito, também. Os brasileiros adoram dançar, beber e comer. Eu acho que eles sabem mesmo como aproveitar a vida. Isso é maravilhoso! Temos muito o que aprender com o Brasil!!! :)

RM - Você disse que encontrou o Mr. D no Brasil e começou a trabalhar com ele. Você já trabalhou com algum produtor brasileiro como o DJ Marlboro?
T - Eu conheci alguns produtores no Brasil, mas não produtores de funk. Eu adoraria encontrá-los da próxima vez que eu for lá.

RM - No Brasil, o funk carioca ainda é um estilo marginal, mas vem se tornando conhecido ao redor do mundo. Na sua opinião, por que o estilo consegue ser tão universal ao ponto de seduzir uma garota japonesa, como você?
T - Bem, eu acho que a batida do funk é uma coisa! É tão original, embora tenha algo de miami bass. Então, ela faz o povo dançar sem parar! Eu não entendo o que eles dizem, tá ligado?, mas eu fico louca para dançar quando eu ouço a batida. Eu acho que a língua não importa, as pessoas sentem a batida e querem dançar.

RM - Nos bailes funk do Rio de Janeiro, as garotas costumam se reconhecer em estereótipos como a "tchutchuca" (garotas que fazem a linha inocente, lolita), "tigresa" ou "cachorra" (garotas bem sexy que escolhem os caras que elas querem), "popozuda" (garotas com o bum-bum avantajado) e "purpurinada" (garotas que usam glitter no corpo, mais estilo fashion). Você sabia disso? Que tipo de garota você seria?
T - Que engraçado, isso! Eu não sabia! Deixa eu ver... Eu acho que às vezes eu sou tchutchuca, às vezes cachorra!!! (Muitos risos.) Sim, depende do clima e do cara, tá ligado?

RM - Quais são os temas das suas músicas? (Desculpa, mas a maior parte delas é em japonês e eu não pude entendê-las.) Você fala sobre sexo como as cantoras de funk brasileiras?
T - Não, não, não. Eu não falo sobre sexo. Minhas mensagens são sobre o egocentrismo na sociedade capitalista, choque cultural na globalização e o girl power. Às vezes, eu conto algumas estórias, também. Há algumas traduções no meu website. Dá uma checada.

RM - Você está lançando seu primeiro EP na internet de forma independente. Por que você escolheu a internet para lançar o CD? Você tem planos de ser contratada por uma major?
T - Hum, eu acho que as muitas pessoas usam computador hoje em dia e passam mais tempo na frente dele do que vendo TV. Eu fiz recentemente um myspace e achei que poderia ser legal mostrar minhas novas músicas para as pessoas, já que elas têm um pé no funk carioca que é um ritmo cool underground e, também, porque eu canto basicamente em japonês. Minha dance music é completamente diferente. É realmente uma nova dance music, tá ligado?. Nova geração. Por isso, as pessoas adoram. Mais e mais fãs aparecem através do MySpace. Eu compreendi que a internet é excelente, desde que você tenha uma música realmente boa.
Se eu estou planejando ter um contrato com uma major? Hummm, não sei... ;) O que eu quero é mostrar minha música para o máximo possível de pessoas ao redor do mundo e fazê-las felizes. Sendo assim, se o contrato com a major me permitir isso, tê-lo pode ser uma boa escolha.

RM - Você conhece as estrelas brasileiras Tati Quebra-barraco e Deize Tigrona ou outros artistas de funk do Brasil? O que você acha deles?
T - Claro que eu as conheço. Meus artistas favoritos são a Tati Quebra-barraco e o Bonde do Tigrão. Eles são muito bons! O Bonde do Tigrão faz um mix com o hip-hop, por isso eu gosto muito deles :)

RM - Existe algum tipo de “cena funk” em Tóquio? Tem clubes onde se pode ouvir e dançar funkcarioca? E DJ que toquem o estilo? Você já tocou em algum desses lugares?
T - Sim, alguns clubes tocam funk carioca, mas não são muitos. Dois ou três clubes em Tóquio e algumas outras festas brasileiras no interior do país. Muitos brasileiros vivem no interior do Japão, tá ligado? Eles formam suas próprias comunidades. Nesses lugares, há cultura brasileira e eles tocam diversos tipos de música brasileira nos clubes. DJ de funk eu acho que tem apenas um no Japão. Seu nome é Rokotsu Kit e ele é meu amigo. Não há muita gente que conheça o funk carioca aqui. Mas, ele tem muitas músicas e toca em tudo quanto é evento de funk Eu também já toquei em eventos de funk, em alguns clubes. E o Rokotsu Kit tocou também. Não há muitos conhecedores em funk no Japão, então todo mundo se conhece e quando há algum evento de funk, a gente vai lá e toca. Mas, a partir desse ano, mais pessoas estão conhecendo o funk, aos pouquinhos. É excitante ver como as pessoas reagem à música. Eu sabia que as pessoas no Japão iriam curtir o funk também e, das pessoas que eu conheço, eu fui a primeira a ter contato com essa parada maneira. ;)

RM - Você está se mudando para Los Angeles. Quais são seus planos para o futuro? Você tem planos de tocar no Brasil? Já tem alguma data marcada?
T - Sim, eu estou me mudando pra lá. Estou finalizando meu primeiro álbum ainda este ano e vou lançá-lo ano que vem. Antes, vou gravar um clipe. Por isso, vou andar bem ocupada em breve. Eu toco na Suécia em 20 de setembro. (A entrevista foi realizada duas semanas antes deste evento.) Minhas músicas são hits nas pistas de lá. Eu estou muito excitada. E, quer mais? Eu devo fazer um show no Brasil. Ainda não sei quando mas, com certeza, vou estar por lá em breve. Muito excitante!

Malha Funk - História

Malha Funk - Sinônimo de Alegria Brasileira

Fundado em fevereiro de 2000, o Malha Funk vem se destacando pelo seu jeito alegre de se apresentar. Composto por moradores de comunidades humildes do Rio de Janeiro, Padre Miguel, Marechal Hermes e Bangu, o grupo está indo cada vez mais longe, em busca do auge e do sucesso. Tanto é que os vocalistas Andinho, Geléia e os dançarinos Léozinho, Raphael e Edinho já possuem em seus currículos a participação na Minissérie Cidade dos Homens, da Rede Globo de TV (Outubro de 2003), a qual abriu portas para outros convites, como o Tim Festival no Rio de Janeiro e, em São Paulo, o Sonar Sound (Setembro de 2004), ambos junto ao Dj Malboro. Participaram também do programa Mulheres (TV Gazeta-2004) e mais recentemente do Mais Você (Globo), Sabadaço (Band), Bom D+ (Record), Caldeirão do Huck (Globo), Beleza Pura (Band), Super Pop (Rede Tv), Boa Noite Brasil (Band) e Show do Rio (CNT).

Dispondo de um repertório bem eclético, o Malha Funk vem conquistando os quatro cantos do Brasil, entre eles as cidades de São Paulo, Belo Horizonte Porto Alegre, Vitória, Mato Grosso do Sul, Recife, Bahia, Paraná, Santa Catarina, além do Paraguai. Seus maiores sucessos são trilhas sonoras obrigatórias nas melhores festas do gênero, como as músicas Virar de Ladinho (Cd Melhores do Dj Malboro, Sabadaço e Cobras e Lagartos). Nova Dança-Melô do James Brown (Cd Zoeira Funk 3, Dj Tubarão e Cd Matinê do Ricardo Gama), Malha Funk na Bahia (Cd Big Mix de Verão), Sunguinha de Bichinho, Noite Carioca, Kika Kika, BNHC, Clube das Mulheres, Tudo o que o Mestre Mandar, entre outras.

Assim, espalhando alegria e irreverência, o Grupo Malha Funk segue cantando e encantando todo país em busca de um só objetivo: mostrar para todos que dentro da favela não existe somente drogas e violências, mas também muita arte e cultura.

Eu Te Amo
Malha Funk

To ligado assim no teu jeito
To vidrado bem nos teus olhos
Na batida do teu coração
Louco pra te dar mais um beijo
Pra matar o nosso desejo
Só sei que te amar é tão bom
Nunca me entreguei tanto assim
Começo,meio e fim
Achei a dona do meu coração
É muito diferente com você
Sabe me levar até o céu
Faz me transbordar de prazer

Eu te amo
Eu te chamo
Eu te quero,toda pra mim

Eu te amo
Eu te espero
Até o fim,até o fim (Refrão)

Fergie | Big Girls Don't Cry

Fergie -> Big Girls Don't Cry
A música mais badalada do momento - [Fergie]

Da Da Da Da
The smell of your skin lingers on me now
You're probably on your flight back to your hometown
I need some shelter of my own protection baby
Be with myself in center, clarity
Peace, Serenity

I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you
It's personal, myself and I
We got some straightening out to do
And I'm gonna miss you like a child misses their
blanket
But I've gotta get a move on with my life
It's time to be a big girl now
And big girls don't cry
Don't cry,
Don't cry,
Don't cry

The path that I'm walking, I must go alone
I must take the baby steps til I'm full grown,full
grown
Fairy tales don't always have a happy ending do they
And I forseek the dark ahead if I stay

I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you
It's personal, myself and I
We got some straightening out to do
And I'm gonna miss you like a child misses their
blanket
But I've gotta get a move on with my life
It's time to be a big girl now
And big girls don't cry

Like a little school mate in the school yard
We'll play jacks and uno cards
I'll be your best friend and you'll be mine
Valentine
Yes you can hold my hand if you want to
'cause I wanna hold yours too
We'll be playmates and lovers and share our secret
worlds
But it's time for me to go home
It's getting late, dark outside
I need to be with myself in center, clarity
Peace, Serenity

I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you
It's personal, myself and I
We got some straightening out to do
And I'm gonna miss you like a child misses their
blanket
But I've gotta get a move on with my life
It's time to be a big girl now
And big girls don't cry
Don't cry,
Don't cry,
Don't cry

La Da Da Da Da Da.

O Pancadão do Caldeirão - CD Funk Música 2007


Já saiu Corra!!!

Já está à venda em todo o Brasil o CD definitivo de
funk 2007:




O Pancadão do Caldeirão !!!

Só sucesso! 22 músicas mixadas !!!
Lógico que o funk foi e é o ritmo do ano aqui no Brasil, e assim vai ser ano que vem também com certeza.
Este CD é uma coletânea do que tá rolando de mais legal no funk atual.
Vamos faixa a faixa do novo CD do Pancadão do Caldeirão:


01 - MR Catra – Adultério - O sucesso do momento. Em cima do “Tédio" do Biquini Cavadão, a música tá estourada em todos os bailes e pistas de Norte a Sul do Brasil. Com um detalhe. Esta versão cê pode mostrar até prá tua avó. Não tem palavrão, pode ficar tranquilo(a)... hehehe

02 -Marcio G - Pernão Sarado. Outro sucessão. É só começar aquele piano da introdução prá fazer a pista chacoalhar !!!

03 - Perlla - Eu vou. Depois do Vacilão e de Totalmente Demais, este é o novo sucesso da Perla. Garantido também na pista.

04 - Robinho da Prata - Copo de vinho. Outra que tá arrebentada em todo Brasil. Como a música diz "E vai descendo, perdendo a linha devagar". Funk sexy!

05 - Buchecha e Marcinho - Luminosa - Remix do sucessão, na voz do Buchecha e do Marcinho.

06 - Paulinho - Minha Versão - hehehe. Resposta ao Tremendo Vacilão. A letra é muito divertida, respondendo à Perla tudo aquilo que ela falou do coitado do Vacilão...
07 - Didô -Tô Na Pista pra Negócio - Nem preciso falar. "E aí mulheradaaaaaaa!!!!". É só começar e todo mundo fica louco.

08 - MC Leozinho - Isso É o Funk - Depois do "Se Ela Dança Eu Danço", Leozinho vem com este tamborzão prá cima. Sucessão!

09 - Princesa e o Plebeu - Estrela de TV - Funk romântico, bem bacana.

10 - Roni & Baby – Gandaia - Sucesso atual dos bailes. Música com clima de verão total!

11 - MC Biru Leybi - Be-A-Bá - Ele está de volta ! Depois da Periquita, Biru Leybi agora ensina o tal do Be-A-Bá prá galera pular... Completamente alucinado!!

12 - Pé de Pano - Hoje Eu Vou Beijar Você - Considere isso uma ameaça!!! Pé de Pano é sucesso faz tempo nos bailes. E esta música é o lançamento que tem tudo prá deixar a galera louca na balada. Muito bom!

13 - Os Caçadores - Tio Toin - hahahaha. Sem comentários. Os Caçadores são os caras mais divertidos. A letra é de rolar de rir. O Tio Toin da música só cria confusão....O difícil é entender quem fez o quê. hahahaha.

14 - Os Ousados – Sabãozinho - Sucesso total nas pistas. Aquela cornetinha do começo dá o clima da música. E "Pega o Sabãozinho"!

15 - Latino - Catcha Cachaça - Remix do Dennis DJ pro sucesso do Latino, o cara mais figura da música nacional atual. A letra é cheia de sentido duplo... hehehe.

16-Cidinho e Doca - Ja É - Mais um sucesso dos bailes pro CD do Caldeirão. O refrão "Já é, Já é" é o hino da galera nos bailes.

17 - Cacau – Complicado - A cada música a Cacau se supera. A Cacau é sucesso onde quer que vá. Ela fala de amor e romance de uma forma que ninguém faz. Muito legal. A mulherada fica louca com as letras da Cacau.

18 - Magrão - Te beijar - Mais romance na pista. Bem bacana!!!

19 -Evelyn – Demoro - Remix do sucesso, numa pegada mais tamborzão com climas de teclados bem legais. O vocal da Evelyn é marcante e sucesso onde toca.

20 - Cidinho e Doca - Rap da Felicidade - Remix de um dos maiores sucessos do funk de todos os tempos. Com umas pegadas de guitarra "nervosa" e o batidão pegando solto por baixo. Bem legal!

21 - Bob Rum - Rap do Silva - Mais um remix de um clássico do funk. Com uma introdução de samba, tamborzão rolando com cavaquinho, o remix ficou muito bacana.

22 - Jack e Chocolate - Um Morto Muito Louco - Mais um remix de outro sucesso do passado. Aquele sonzinho do "Morto" original deu lugar a uma guitarra. Detona qualquer pista. Muito legal.

Ufa!!!
Tá bom procês ? 22 músicas, ou melhor, 22 sucessos, um atrás do outro. É colocar o CD pra tocar e curtir direto. Não precisa nem de DJ... hehehe. Perdi o emprego agora... hahahaha.

Divirtam-se !!!

Funk Carioca

O Funk Carioca é como um super-herói com poderes invertidos. Ele está por toda a parte na cidade: no asfalto, no morro, na areia, no sangue, na pele e nas micropartículas do ar. Além da onipresença, ele também tem o dom da invisibilidade, mas apenas porque as pessoas não querem vê-lo por perto e fazem de conta que não existe. É como se fosse um prato no restaurante que todos têm medo de perguntar se está no cardápio. É como o menino pedindo dinheiro no sinal e sendo ignorado pela madame em seu carrão importado e com vidros fumê. Mas basta botar o som bem alto para que sua maior força — o poder do grave — quebre todas as resistências. Porque o funk não é para ser explicado, é para ser sentido. E aí todos — a turma no restaurante, a madame no carrão — vão bater pezinho, quebrar a cintura e sacudir o popozão. “É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado”, como bem diz a letra de Som de Preto. O funk pega um, pega geral. E continua pegando.

Depois de anos surfando ondas de preconceito, o funk carioca vai muito bem. Na crista, em cima da prancha, está o DJ Marlboro. É ele quem guia o funk carioca. Por onde ele vai, a música vai atrás. Marlboro é o rei do Rio, um dos únicos sujeitos capazes de unir a cidade partida. Quer saber onde tem um bom baile funk? Procure um onde Marlboro e sua equipe, Big Mix, estiverem tocando. Pode ser na quadra do Dois Irmãos, em Acari (rua Piracambu) ou no Dendê, na Ilha do Governador. Esse é o circuito quente original, em que o funk esquenta chapas todos os fins de semana.

Mas desde que Marlboro foi convidado para tocar no Tim Festival, o funk retomou o namoro com a Zona Sul da cidade. Antes do Carnaval, Marlboro estava fazendo “ensaios” no Scala, no Leblon, como se fosse uma escola de samba. Já teve funk rolando também no Monte Líbano, na Lagoa, misturado com electro e hip hop. Além das fronteiras do estado, durante a folia momesca, Marlboro tocou em Porto Seguro e no Camarote 2222, organizado por Flora Gil, em Salvador.
Além de Marlboro, uma MC protegida por ele, a incendiária Tati Quebra Barraco, fez barba, cabelo e bigode após seu show no mesmo Tim Festival. Tati virou desenho da grife Cavalera, inspirou desfile no Fashion Rio 2005, excursionou pela Europa e ganhou uma residência no moderno clube Fosfobox, em Copacabana, onde tem cantado hits como Espanhola e Palmolão.
Porém, a mais inesperada conexão do funk está acontecendo fora do Brasil. É por meio do DJ e produtor americano Diplo que o funk carioca está começando a ganhar o mundo. Diversas vezes comparado com o supremo DJ Shadow, um mestre na arte de colagens musicais, Diplo conheceu o funk por acaso, ao se apresentar para um grupo de dançarinos brasileiros radicados em Nova York. Surpreso e apaixonado pela força do som, ele veio ao Brasil e fez uma espécie de “estágio” nos bailes funk do Rio, conhecendo Marlboro e companhia.

De volta aos Estados Unidos, botou o conhecimento em prática. Primeiro, lançou dois mixtapes — discos mixados, distribuídos gratuitamente em lojas pelos DJs — recheados de funk. Depois, completou seu primeiro disco-solo, Florida, em que mistura ragga (o lado cascudo do reggae) com funk, tudo embalado por atmosféricas colagens musicais, indo do soul ao free jazz. Seu disco saiu na Europa pela prestigiada gravadora Ninja Tune. “Como mostra Diplo, o funk carioca é um som agressivo e altamente erótico. É difícil resistir a ele após algumas audições”, disse o jornal Japan Times, do Japão, claro. “É o som de uma festa fora do controle. Perto do conservadorismo do hip hop, o funk carioca soa revolucionário”, exclamou o City Paper, da Filadélfia. São sinais de que o mundo pode cair de amores pelo funk. E aí, se isso acontecer, não vai dar para fazer de conta que ele é invisível.

Ritmo musical convive com violência, permissividade e uso de drogas

Por que o funk vem sendo demonizado por centenas de ONGs? Para combatê-lo já surgiu até mesmo uma federação de ONGs anti-funk, a Fafec. Segundo esse amplo espectro de organizações não-governamentais, o Brasil musical, na era do funk, parece estar voltando à pré-história. Na sua definição, o funk produz um desprezível tipo de barulho que ignora os instrumentos musicais, apoiando-se apenas numa simples mesa de som, com seus botões de mixers. Enfim, na visão radical dessa federação de ONGs, o ruído produzido pelo funk seria uma barreira para a criatividade e uma agressão à sensibilidade humana. Na essência, uma pífia antimúsica que mereceria ser exterminada, conforme proclamam através de suas páginas na Internet.

Mas o libelo anti-funk vai muito além dos aspectos meramente musicais. A atual trajetória do ritmo importado das ruas de Nova York mostra seu verdadeiro papel no crescimento da criminalidade nas grandes cidades brasileiras. Com o funk, dizem vários pesquisadores da área social, o país vai coexistindo com a violência, a livre apologia do crime, a exaltação das máfias do pó e o mais abjeto aviltamento da mulher. No rastro do funk-maldade, também há uma enorme legião de jovens drogados, assassinados, adolescentes arrastadas para a gravidez precoce ou, simplesmente, cooptadas para o tráfico de entorpecentes. Já existe até mesmo uma banda, o Planet Hemp (maconha, em inglês), que faz uma aberta apologia do uso de drogas. O maior sucesso do grupo diz textualmente: "Lá só tinha maconha/ eu acho que o bagulho é que dá pé..."

A qualidade musical, que no passado era uma exigência das gravadoras tradicionais, no caso do funk já não é mais relevante. Para as multinacionais, que estão ganhando rios de dinheiro com o som nascido nas mesas de mixers, o que importa é faturar, ainda que através da pornografia presente nas mais repulsivas letras funkeiras. As mulheres, que antes eram exaltadas na música romântica brasileira, agora com os CDs do funk são incitadas a latir como cachorro ou chamadas a aceitar que "um tapinha no bumbum não dói".

Nascido nos Estados Unidos, em 1967, com o grupo Sly and The Family Stone, o funk ganhou força com o aparecimento das discotecas em Nova York, por volta de 1975. Elas passariam a tirar partido da movimentação corporal permitida pelo novo ritmo, atraindo com isso multidões de jovens. Era também uma espécie de malhação que prescindia das academias. Em 1978 surge o rap (rhythm and poetry), que, além da linguagem do corpo, o break dance, trazia o modismo das pichações e incorporava um vestuário não convencional: bermudões bizarros, tênis de basquete, camisas coloridas e o uso dos bonés com a aba para trás. Logo após surgiria o funk violento que defende o uso de drogas, ataca a polícia e a burguesia. Começa então uma longa trajetória de violência e assassinatos. Um aberrante contraste com o gospel, a música dos negros nas igrejas batistas norte-americanas, do qual descendia. Ou, bem antes, o ritmo dos negros escravos empregados nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos.

Ao chegar ao Brasil, aportou nos subúrbios do Rio de Janeiro através de Tim Maia e Tony Tornado por volta de 1974, e logo passaria às favelas. Suas letras exaltavam a comunidade, mas ignoravam a pornografia e combatiam a violência. Uma delas dizia: "O nosso baile vai ficar mais divertido/ se pararmos com briga / e ficarmos mais unidos".

Poder político

Logo, porém, o funk iria conhecer um irreversível processo de degradação, nascido basicamente da tolerância e por vezes da conivência com que os governos tratavam o tráfico de drogas. Foi no tempo em que inúmeros traficantes, como Denis da Rocinha, no Rio, na condição de presidentes de morro, ganharam incomensurável poder político e se transformaram em importantes cabos eleitorais de governadores, deputados e prefeitos. A partir de então o crime, que em décadas anteriores era uma atividade escoteira, vai se organizar. Nasce o funk-bandido, que se torna quase sinônimo de drogas, assassinatos e chacinas. Mas esse contubérnio de alguns partidos políticos com os chamados chefes das favelas também teria graves conseqüências sobre o enorme incremento da corrupção policial. Governadores chegam a proibir através de decretos que a polícia suba nos morros. Então, a parte podre do efetivo policial sente-se liberada para participar de algum modo da espúria aliança. Passa a achacar as bocas-de-fumo ante a certeza da impunidade.

Com o virtual pacto político, que assegurava uma espécie de bill de indenidade aos criminosos, iria crescer o comércio das drogas, e conseqüentemente o poder financeiro do tráfico. Agora era possível levar aos morros e bairros populares uma desconhecida tecnologia eletrônica – sedutores estroboscópios, espetaculares mesas de som, poderosas caixas amplificadoras que desembarcavam dos Estados Unidos via contrabando. Era um novo chamariz para os bailes funk e o negócio das drogas. Um importante atrativo para as antigas bocas-de-fumo.

Com a vinda da nova tecnologia eletrônica destinada aos bailes também chega um moderníssimo arsenal: fuzis AR-15, metralhadoras, bazucas e até granadas, e vasta munição. Nessa mesma época, no final dos anos 70, também aconteceria o dumping da cocaína patrocinado pelo cartel de Medellín. No Brasil, o pó passava a ser vendido a preços inferiores aos da maconha. Com os lucros do negócio avançando rapidamente, também cresceu a competição entre as quadrilhas. Estava deflagrada a guerra entre as bocas-de-fumo e os comandos. Só no Rio, na última década o conflito já produziu cerca de 50 mil homicídios.

Seria através dos bailes, divulgados por rádios FM e canais de TV em busca de fácil audiência, que mais e mais jovens encontrariam as bocas-de-fumo. Em tais festas, a venda da cocaína representaria um faturamento de R$ 40 mil nos finais de semana. É o dinheiro que financia os sistemas de som que chegam a cobrar de R$ 3 mil a R$ 5 mil por baile. Alguns deles têm nomes significativos. Um dos mais populares é o Bagulhão (grande maconha). Atualmente funcionam nas 700 favelas cariocas umas 200 bocas-de-fumo que realizam festas funk. Ao lado dos clubes e do Canecão são cerca de 1,5 mil bailes, só no Rio. Com isso, o funk poderia assegurar uma receita total em torno de R$ 30 milhões mensais só para os sistemas de som, que não inclui a venda de discos ou os lucros milionários das gravadoras.

O Bagulhão chegou a ganhar seis discos de ouro e dois de platina, o que significa mais de 1 milhão de CDs vendidos. Outros R$ 60 milhões poderiam ser faturados com a venda de drogas durante os bailes, o verdadeiro chamariz do negócio. É o que calcula a Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio.

Boa parte do recrutamento de jovens para a guerra das drogas se processa durante os bailes funk. Neles nasceram as galeras, espécie de tropa de choque integrada por soldados, olheiros, gerentes, etc., bem remunerados pelos traficantes. O funk também iria permitir que os DJs – animadores dos bailes – encontrassem na rivalidade entre as galeras um poderoso instrumento para tornar a dança ainda mais violenta e delirante.

Quanto mais droga melhor o funk, insinuam os DJs. E a matéria-prima de que os traficantes necessitam para atrair novos recrutas e prepará-los para a guerra. Os jovens são chamados a lutar furiosamente entre si, dividindo-se a quadra em territórios inimigos. Dos bailes, as galeras rivais saltam para a via pública. Invadem bairros e praias. Chegam a aterrorizar Copacabana com violentíssimos arrastões ou protagonizar boa parte das chacinas que acontecem na periferia de São Paulo.

A ousadia dos DJs, geralmente proprietários dos sistemas de som, não encontra limites. As meninas são convocadas a entrar na onda do strip-tease. No início, o barato é o topless. Protegidas por seguranças, elas sobem nuas ao palco. Uma nova atração para o funk, e um completo vale-tudo sexual. Muitas delas, com 13 ou 14 anos de idade, também se tornam amantes dos mais brutais donos dos morros. Como juiz de menores não sobe ao morro, metade da assistência funk é de crianças e adolescentes. Boa parte deles compõem as quadrilhas. São os "de menor", que portam pistolas ou carregam metralhadoras a serviço do tráfico de drogas e com o bill de indenidade do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Sem censura

Sistemas de som que difundem o funk, como o Furacão 2000, chegam a receber uma parte substancial dos lucros do negócio das drogas. É com esse dinheiro que passam a controlar programas domingueiros em determinadas redes nacionais de televisão. Rômulo Costa, proprietário do Furacão, foi preso pela primeira vez em 1999. Processado pelo 38º Distrito Policial do Rio e com prisão decretada, ficou foragido algum tempo. Localizado em Búzios, por ser primário obteve habeas corpus depois de quase um mês de cadeia. Inaugurou em seguida um programa de duas horas na televisão. Como não há censura para a TV, essa mídia é atualmente o instrumento de difusão do funk-bandido, e conseqüentemente do crime e das drogas. Aliás, foi a glorificação do bandido homicida, a apologia das drogas e o aviltamento da mulher que levaram o "Jornal do Brasil" a denunciar em editorial o verdadeiro caráter do funk: "Um festival de violência que espalha mais terror que alegria, uma dança macabra".

E, para cúmulo dos cúmulos, outro canal exibiu várias vezes um clipe do Facção Central, em que aparece um grupo de assaltantes estuprando e matando uma mulher na frente do marido. A letra do funk, mostrado em horário nobre, era bastante explícita: "Vou furtar seus bens/ e ficar bem louco (com o pó)/ se eu quero roupa e comida, alguém tem que sangrar/ vou enquadrar uma burguesa/ e atirar para matar..."

Para alguns sociólogos marxistas o funk tem certo sentido de luta pela libertação dos jovens mais pobres. Karl Marx é invocado para defender a idéia de que o funk tornaria o adolescente da periferia consciente de sua existência individual e social. Tal retórica é o pretexto para que determinados setores justifiquem a difusão de funks como um do letrista MV Bill, cuja letra diz, em sua parte publicável: "Eu tenho uma 9 e uma HK/ Com ódio na veia pronto para atirar/ Na vida que eu levo não posso brincar/ Eu carrego uma 9 e uma HK/ tem mais um pente lotado no meu bolso / só roupa à pampa que eu posso comprar/ tem um monte de cachorra (garota) querendo me dar/ a moda aqui é ser mulher de bandido..." Por tudo isso o funk parece mesmo uma dança macabra.

Planeta Funk

Planeta Funk: DJ Marlboro tocando de NY à Polônia; rede de TV das arábias interessada em documentário de funk carioca; hit do verão europeu chupado Deize Tigrona... O mundo tá de quatro pelo funk carioca!


Deu no “New York Times” que o funk carioca tá na moda. Também rolaram matérias nos jornais ingleses “The Times” e “The Independent”. A mídia especializada em música e comportamento foi ainda mais fundo no assunto – das americanas de enfoque underground, como “XLR8R”, “Blender” (revistas) e Earplug (online), até a Radio 1, emissora da comportada rede inglesa BBC.

A recente moda de funk não se restringe ao mundo ocidental, onde gringos costumam se engraçar por novidades vindas dos trópicos, sobretudo durante o verão (deles, que vai de junho a agosto). Até a Al Jazirah, do Quatar, rede de TV que Bin Laden usa pra mandar seus recadinhos, entrou na dança. A emissora revelou grande interesse pela compra do documentário “Sou Feia, Mas Tô Na Moda”, da videomaker brasileira Denise Garcia. Funk até nas Arábias? Demorô, já é!

funk
O crescente interesse pelo filme, que retrata o cotidiano dos funkeiros e, em especial, das funkeiras, mostra que não é só a música, mas o universo dos bailes que atrai a atenção. “Canadá, Dinamarca, EUA, Polônia, Suíça, por aí vai”, enumera a diretora, referindo-se aos paí-ses que a abordaram sobre o documentário, que em inglês ganhou a fofa tradução “I’m Ugly But Trendy”.

“Eu acho que o interesse é porque se trata de uma música cheia de energia, vinda de um lugar onde não há motivo aparente para comemorar porra nenhuma. Junte a batida pesada com a vivacidade de um pessoal que sobrevive à base de nada, mulheres falando abertamente sobre sexo, uma classe média falida tentando reprimir sem conseguir e temos o processo que estamos vendo agora”, resume, muito perspicazmente, a videomaker.

Quer mais? “Bucky Done Gun”, um funk carioca cantado em inglês, tem tudo pra terminar a temporada de festivais no Hemisfério Norte como um dos hinos do verão. A música, incluída no CD de estréia da cantora inglesa M.I.A., é plágio de “Injeção”, hit de 2003 da funkeira Deize Tigrona. O DJ Marlboro, maior embai-xador do funk carioca dentro e fora do Brasil, acaba de finalizar dois remixes pra “Bucky Gun Done”, a pedido da própria M.I.A. O single será lançado pelo selo inglês XL Recordings. Não bastante, Marlboro se apresentou duas noites no começo de junho com a dupla M.I.A. e seu namorado, Diplo, no S.O.B’s, de Nova York. Os ingressos evaporaram duas semanas antes dos shows. Se restava alguma dúvida de que o funk tá na moda, ela acaba de acabar, né?

O caminho do funk
Dos morros cariocas para o mundo, o funk começou a chegar aos ouvidos da gringaiada há pouco mais de um ano e meio. Primeiro através de fatos isolados, como o co-mercial do jeep Nissan feito pra TV alemã, em 2003. A trilha era um funkão de arrebentar, criado pelo trio Tejo, Black Alien e Speed. De tão boa, a música levou prêmios internacionais e ganhou vida longe da TV. Virou single prensado em vinil, foi tocada em tudo que é pista da Europa e até Fatboy Slim fez remix pra música, que nasceu com o título de “Quem Que Cagüetou”, mas ficou famosa no planeta como “Follow Me, Follow Me”. O antenado jornalista inglês Alex Bellos botou foto dos neofunkeiros Tejo, Black Alien e Speed na capa do “The Guardian” e usou o sucesso da música como gancho pra emplacar uma longa matéria sobre os bailes funk do Rio. O título do artigo anteviu a febre atual: “Samba é coisa do passado”. A data? 11 de março de 2004.

Nos EUA, o crítico Sasha Frere-Jones, do “New Yorker”, reparou que uma cascata de matérias sobre funk carioca começou a aparecer na mídia do país uns 18 meses atrás. “Foi nesta época que notei os primeiros DJ sets com faixas de funk nos EUA”, lembra Frere-Jones, um fanático pelo gênero desde 2001, quando ganhou o primeiro CD de um amigo.

E Funk ou Funkstein?

O funk da periferia parece ter conquistado, definitivamente, os corações e mentes da juventude brasileira.

Podemos acompanhar a evolução deste ritmo pelos horários televisivos mais obscuros (comprados pelos próprios promotores deste movimento), em rádios e até mesmo nos periódicos mais elitistas.

Inicialmente encardo como uma manifestação espontânea e divertida, o funk nacional foi absorvido culturalmente por todas as camadas da população. Nenhum brasileiro, hoje, desconhece ao menos uma de suas espirituosas frases.

Alguns temas são recorrentes a este peculiar gênero musical. A sexualidade e a fraternidade são exaltadas constantemente,na maioria das vezes até de forma gratuita. O que poderia ser uma forma saudável de expressão popular vem se degradando em nome da exploração mercantilista e das mais baixas aspirações humanas.

Há quem argumente que o funk possuí um incontestável valor artístico por retratar a realidade da sociedade que o gerou. Entretanto, mesmo que esta linha de raciocínio seja aceitável cabe a seguinte questão: Se a arte é a mera reprodução da realidade, que valor ela teria desta forma?

A arte, por definição, é a extrapolação da realidade com a finalidade de transmitir uma idéia, promover valores e estimular a reflexão dentro de uma sociedade. Com seu vocabulário tosco e vulgar o funk empobrece e nivela por baixo o combalido cenário cultural do país.

Com a repetição de lugares comuns, trocadilhos, chamados às comunidades e outros recursos limitados, esta música se tornou uma verdadeira ferramenta de lavagem cultural, promovendo a destruição gramatical de nossa língua, a disseminação do conformismo e incentivando desvios de conduta. O Ministério da Verdade, como criado por Orwell, chega até a soar ingênuo.

O movimento funk, como tem sido divulgado pela mídia, promove uma política de pão e circo decadente. Sua única função é servir como uma fuga para um povo marginalizado e segregado. Seu sucesso só contribui para um círculo vicioso de escapismo e alienação. Mas mesmo num cenário tão apocalíptico encontramos alguma esperança. Entre centenas de "proibidões", "melôs" e "bondes" surgem verdadeiros artistas.

Livros como "Cidade de Deus" e "Zona Norte", bandas como O Rappa e Racionais retratam a realidade deste povo sob a visão peculiar de seus autores. Eles trazem sua mensagem e a esperança de que as coisas podem mudar, ainda que para as novas gerações.

Esse indivíduo violento chamado ser humano.

Existe uma crescente onda de violência explícita e gratuita entre os seres humanos, sejam eles de qualquer classe social, que vivem no Brasil ou em qualquer parte do planeta. Esqueçamos o que muitos sociólogos e antropólogos do passado comparavam a pobreza, miséria e ignorância como sendo um produto das classes menos favorecidas. Estamos falando aqui, da violência que um indivíduo pode proporcionar ao outro e aí entramos na questão do individual e não de classes sociais. Isto é o que esse singelo artigo vai alertar.

Estamos nos acostumando cada vez mais com a violência que é praticada nos grandes centros urbanos. Tanto que assistimos a filmes e seriados de TV que retratam essa realidade e já não estamos mais nos assustando com isso. Pelo contrário, virou uma diversão com direito a poltrona e pipoca e bilheterias milionárias. Com exceção do dia em que fui ver o filme Cidade de Deus, onde uma mulher de classe média cochichou para a outra que “o filme é muito violento, a realidade não é desse jeito”. Quer dizer, ela achou o filme uma pura ficção, totalmente fora, da realidade em que ela vivia. Fora esse caso, creio que já estamos nos acostumando com essa realidade, retratada em filmes como Cidade de Deus, Carandiru e o seriados como Cidade dos Homens e Turma do Gueto.

Não estou aqui desmerecendo essas produções que, pelo contrário, são muito bem produzidas e tem até um caráter social de passar algum tipo de mensagem para a população. Porém a mídia está se aproveitando desse momento, dessa espetacularização da miséria e da violência, ganhando dinheiro a torto por aí. Como se já não bastasse os diversos programas de ridicularização da pobreza como Ratinho, Hora da Verdade, Brasil Urgente, Cidade Alerta e muitos outros que nem vale a pena comentar.

O que está acontecendo é justamente a “normalização da violência”.

É “normal” jovens e crianças assaltando em faróis da cidade. É “normal” cada vez mais jovens morrendo cada vez mais cedo por causa do tráfico de drogas. É “normal” assistirmos lutas de gangues em bailes funk. É “normal” vermos mendigos e miseráveis nas ruas de São Paulo. É “normal” o desemprego mundial porque faz parte do capitalismo. É “normal” existir ricos e pobres.

Ao contrário do que muita gente imagina alguns casos de violência entre os jovens nem sempre são exclusivamente de classes pobres. Também percebemos que a cada dia surgem casos e mais casos de pessoas moradoras de bairros nobres e com uma vida privilegiada, porém também costumam aparecer nas manchetes de jornais.

Podemos observar isso em certos grupos de jovens de classe média, que geralmente nunca andam sozinhos, são anabolizados e andam quase sempre com algum cachorro pitbull ou rotweiller ao seu lado para mostrar a sua virilidade. A única busca pelo prazer desses jovens é ir de encontro a outros grupos com o intuito de simplesmente entrar em alguma confusão, seja na porta de bares, danceterias, academias ou mesmo próximos às escolas. Apelidados geralmente de pitbulls ou bad boys, esses rapazes, em forma de gangues, buscam incessantemente uma boa briga para colocar seus dotes físicos e marciais à mostra para a sociedade. Da mesma maneira que existem gangues em periferias, também há formação de gangues em grupos que simplesmente levam uma vida financeira que não podem reclamar. É “normal” a formação desses grupos nos dias de hoje.

Atualmente, não são apenas os jovens da periferia que são associados à violência social-urbana. A burguesia também participa dessa violência explícita, muitas vezes sem nenhum motivo aparente ou mesmo por motivos banais. Logicamente existem boas razões como dinheiro para drogas ou mesmo por problemas familiares que mexem com o psicológico desses jovens. Mas uma coisa é certa, seus crimes são tão hediondos quanto os dos menos favorecidos. Isso está ficando uma coisa “normal”.

Veja os casos como os rapazes de Brasília que atearam fogo em um índio. Também já foi notificado em outros estados casos parecidos, porém ateando fogo em mendigos. Jovens que matam familiares por causa de drogas. Jovens que matam por um amor doentio não correspondido. Jovens que matam ou se suicidam, pasmem, porque não passarem no vestibular. Jovens que espancam seus pais e avós por motivos insignificantes. Jovens que entram em um cinema, em uma escola e saem atirando pra todo lado como se fosse um jogo de Counter Strike ou Doom.

E, como podemos acompanhar em diversos artigos e noticiários, esse não é um problema exclusivamente nacional e sim mundial. Porém o que geralmente é divulgado na mídia, é o assassinato de jovens de classe média alta em nossa sociedade. A mídia faz estardalhaço quando esses jovens morrem brutalmente, mas se esquecem que, diariamente, jovens da periferia são mortos também. O que dá mais Ibope e maior repercussão nacional? O que choca mais a população, rendendo semanas seguidas de noticiários? A morte de jovens de classe mais favorecida muitas vezes rende várias passeatas e manifestações a favor da paz, e, contraditoriamente, por outro lado, também rende mais e mais adeptos do não-desarmamento da população. Alegam que armas são para se defenderem desses criminosos. Ou seja, é a violência gerando cada vez mais violência.

E estou falando de jovens em qualquer parte do mundo independente de sua classe social. Há toda uma cultura da violência em escala mundial que simplesmente não está relacionada somente à pobreza, ao preconceito racial, a problemas familiares, ao desemprego. Eu, como um cientista social, é difícil afirmar, mas os problemas sociais apesar de tudo estão se tornando problemas individuais. O social está dando lugar ao individual.

Estamos assistindo a uma verdadeira individualização do ser humano em escala mundial. A humanidade está ficando mais individualista, mais grosseira, menos civilizada. Cada qual procurando cuidar do seu umbigo. Esse é o legado do capitalismo, cuidar de si próprio pra depois tentar se preocupar com os outros. Enriqueçam primeiro e depois, talvez, sobre algum dinheirinho para ajudar os pobres, seja na forma de doações em campanhas milionárias televisivas, seja em caridades para Ongs e entidades filantrópicas.

Apesar dessa propensão do ser humano a fazer caridades eventualmente, as pessoas estão cada vez mais com medo. Medo de perder o emprego, medo de serem assaltadas. Medo de perder a mulher ou marido. Medo da vida, medo da morte. Esse medo gera insegurança, essa insegurança gera uma maior individualidade. Essa individualidade gera a competição.

Assim, o nosso colega de trabalho é nosso inimigo, o nosso vizinho é nosso inimigo. Todos lutam contra todos e quem for o melhor vence. Só os mais fortes sobrevivem nesse darwinismo social.

Essa competição é também comumente travada em grandes e pequenas empresas onde impera a individualização exarcebada. Não existe espaço para todos prosperarem como é vendida a imagem de um sistema democrático (para todos) no sistema capitalista. Portanto somente alguns sobrevivem, restando aos demais o emprego informal, o desemprego e mais tarde a miséria propriamente dita. Esse é o tipo de violência mais visto hoje em dia, porém tratado de uma maneira adocicada e mascarada pela mídia e grandes corporações. É “normal” alguém ficar sem emprego no sistema capitalista. Se você não consegue algum tipo de trabalho é sinal que você é um incompetente e não está preparado para o mercado de trabalho. Você é um perdedor.

Assim, a violência pode ser expressa de várias maneiras. Seja ela física, urbana, doméstica, psicológica, política ou social. Mas uma coisa é certa, a violência está crescendo de tal maneira em todas suas denominações tornando-se um fator comum, virando um caso de normalidade em nosso cotidiano. A violência tornou-se comum, banal.

Nós, seres humanos, tornando-nos mais e mais individualistas perdemos nossa noção de sensibilidade quando deparamos com a violência veiculada nos jornais e tevês. A tragédia já não nos choca tanto. Um crime se torna banalidade do dia a dia. A guerra vira apenas uma mera contagem estatística de mortos e feridos. Uma simples cena de amor numa novela nos faz chorar muito mais que centenas de mortos todos os dias nos noticiários.

Esse individualismo exagerado gera medo entre as pessoas. Esse medo faz com que elas se tranquem em seus condomínios, em seus bairros, em suas casas.

A tecnologia nesse caso, auxilia essas pessoas a se trancarem em seus domicílios, através da internet, celular, TV a cabo, videogames e computadores. O indivíduo, ao invés de gerar as relações sociais pessoalmente, como vem sendo feito há séculos, ele dispõe de tecnologias no qual ele possa fazer essa sociabilização a partir de sua própria residência. Ele se distancia e ao mesmo tempo quer interagir com os outros, porém, o medo e a insegurança que são geradas pela violência, o impedem de viver em sociedade nos moldes antigos.

Assim, esses indivíduos que geram violência, colaboram explicitamente para a própria reclusão do ser humano, tornando uma sociedade individualista e receosa de sua própria humanidade.

Funk - Lavagem cerebral em uma democracia!

José não era tão velho assim, mas curtia músicas do estilo “MPB de qualidade”, como se orgulhava de dizer, próprias de uma geração antes da sua, porque aprendeu a gostar desse estilo com os irmãos mais velhos, universitários, que já se foram. Além disso, não surgiu uma MPB nova de qualidade para substituí-la. Ou pelo menos, se surgiu está escondida nos guetos universitários e burgueses, longe do grande público ou dos rádios. José também gostava de uns “Rocks internacionais antigos”, não para se “americanizar”, mas porque os anos 60 trouxeram realmente uma onda inovadora e balística que predominou neste estilo de música. José relutou em aderir à onda dos CDs e resistiu o quanto pode com os discos de vinil, até que se rendeu ao som puro e à praticidade dos CDs. Mas não abandonou sua velha vitrola. José gostava de dizer: “Posso até passar para os discos modernos, aderir a Internet, adaptar um pouco as minhas roupas, mas nunca, nunca irão conseguir me massificar! Nunca irão conseguir me fazer gostar da Egüinha Pocotó! Sempre serei eu mesmo. Independente e original.


Chega o carnaval. Após uma semana inteira de trabalho, José vai para um clube, se refrescar um pouco em uma piscina e relaxar, já que teria que trabalhar no show carnavalesco. No clube, os alto-falantes tocavam sem parar o CD do MC Serginho. José vê com tristeza algumas meninas de uns oito anos de idade, dançarem dentro da piscina ao som de uma música do tal MC, que falava umas obscenidades, citando abertamente códigos eróticos que surpreendiam José, apesar dos seus trinta e poucos anos de vida. De volta para casa, no som do carro, mais Pocotó, através das rádios da região. Em casa, enquanto se preparava para o trabalho, as redes de TV cobriam o carnaval, alternando as músicas do Serginho com o decadente Axé Music. Mas, no trabalho, no carnaval, é que José passaria por sua grande “provação”: em pé no meio da multidão, em atitude de alerta, José era massacrado horas e horas pelo som da “Egüinha” e pior, agora executado por uma banda semi-amadora, imitadora do “ídolo”. Na multidão que delirava, movida pelos acordes daquela música horrível, José se sentiu extremamente só. Ele pensou consigo mesmo que aquele som da Eguinha Pocotó era algo inumano. Era muito mais gritada do que cantada propriamente. Era algo intragável, agressivo, muito longe do se poderia classificar como música. Mas, tudo acabou e chegou a hora de descansar. Enfim, livre do Pocotó. Porém, José se esqueceu de que o carnaval agora era perto de sua casa e da cama lhe chegavam as ondas sonoras de algo que sobrou do Carnaval, que por sinal era mais Pocotó. Mas, uma surpresa: José começava a gostar da coisa. Na cama, impedido de dormir, ele começava a cantarolar alguns refrões, já tão familiarizado com a melodia.

No dia seguinte tudo estava consumado. José descobriu: Ele amava o pseudo-funk e a música Egüinha Pocotó. Cedinho ele foi até a loja de discos mais próxima, levando seus velhos discos de MPB e Rock antigo para trocar pelos CDs de Serginho e Kelly Key. Ele agora entendia tudo: um novo mundo se abria a seus pés, teria sucesso profissional, mais amigos e garotas, ele finalmente seria aceito no clube, no grande clube da Uniformização. Tudo estava consumado. Algum “Engenheiro Social” da América do Norte, de terno fino, em um grande edifício, riscava, exultante, mais um nome em uma longa lista. Porém, quem reparasse bem em José andando na rua, no meio da multidão veria que José não era mais ele mesmo. Tinha um rosto com expressão vazia, robótica.

Este artigo eu queria ter escrito pouco tempo depois do carnaval, mas depois veio a Guerra do Iraque e voltei minhas atenções para o conflito. Parece-me que o objeto da estória já perdeu um pouco da atualidade, tamanha a velocidade com que mudam os modismos da Indústria Cultural. Eu acho que quase já não estou ouvindo mais o MC Serginho e seus “Hits” como Egüinha Pocotó e a pérola “Mesa”, o que atesta o caráter descartável dessa cultura. Aliás, a coisa é tão passageira que eu já havia escrito uma crônica semelhante antes com o “Bonde do Tigrão”, que não deu para publicar na época e pouco tempo depois quando a oportunidade de publicar o assunto reapareceu, tive que adaptar como exemplo a “Egüinha Pocotó”, porque o bonde já havia ficado para trás. Bem mas vamos ao texto, pois afinal, embora mudem-se os rótulos, a fórmula é a mesma.